Curioso, como às vezes, por ter-se uma opinião diferente da opinião geral, o que é a coisa mais natural do mundo, pode-se chegar até a chocar e insultar uma pessoa.
Lembro-me de ter dito uma vez para amigos em Berlim : „Não suporto a música de Tchaikowsky e aquela repetição incansável e chata de temas melodramáticos“. Meus amigos ficaram boquiabertos: „Mas como? Não gostar de Tchaikowsky? Que absurdo!“. Senti-me por alguns momentos como um assassino, um bandido, um vilão terrível, vestido com uma capa preta, torcendo a ponta dos bigodes enquanto sorria malignamente… Talvez muitos deverão estar neste momento vendo-me assim mesmo...
Tudo bem. Tenho, por causa do Ballet e do „Lago“, também uma outra conexão com Tchaikowsky. O „Lago“ é para mim o „Lago“ por causa do Ballet, a música vem para mim em segundo plano. Mas considerando o resto da obra de Peter Iljitsch (das sinfonias aos seus concertos para piano, de „Pique Dame“, „Onegin“ ao „Quebra-Nozes“) acho-o chato, exageradamente sentimental, piegas e como disse acima, repetitivo ao extremo. Sua música, muitas as vezes, é infestada de uma simplicidade barata, de uma banalidade fora do comum. Pobre enfim. Quem realmente entende de música concordará comigo. Se eu penso na música e na inventividade de um Schumann, de um Liszt, de um Brahms, de um Rachmaninoff… Nossa, nao é óbvio? Mas isto, repito, É uma tertúlia... lugar onde podemos opinar sobre tudo!
Concordar e discordar!
Mas porque reagimos assim? Acho que as vezes não questionamos mais „racionalmente“ certas coisas que conhecemos já de toda uma vida. Aceitamos o fato porque „sempre foi assim“.
Feijoada é comida na quartas-feiras porque sempre foi assim, no Natal come-se Perú porque sempre foi assim, citar socialmente a arte de Nureyev e Fonteyn ou a linda (considerada por conhecedores como a mais feia „grande“ ) voz de Callas porque sempre foi assim… Sempre se fala isso...
Tudo uma questão de gosto. E falta de questionamentos. Quem lê este meu espaço, sabe que sou apaixonado loucamente por muitas coisas. Sou também muito criticado por opinar sincera- e livremente sobre temas que parecem estar „acima“ de qualquer crítica. Como se fosse um pecado não estar de acordo com a maioria. Por exemplo, quando refiro-me ao „Cinema-Novo“. Muitos falam da qualidade „artesanal“ desta época do cinema nacional. „Qualidade artesanal“ é „conversa mole para boi dormir“ e só serve para justificar a falta de técnica daqueles filmes que envelheceram rápidamente antes do tempo ("Casablanca" de 1943 envelheceu?). Cinema-Novo era uma chatura mesmo. Glauber Rocha também. Maria Bethania outra, Novelas da Globo ainda mais. Os musicais de Andrew Lloyd Weber me deixam irritado (talvez com exceção de „Sunset Boulevard“). Enjoei de Barbra Streisand, desta „Persona“ californiana que ela inventou, tão distante da encantadora judiazinha do Brooklyn que ela foi.
Sempre achei Dercy Goncalves um horror e considero Jo Soares um péssimo entrevistador (isto, só se voce tem uma opinião diferente da dele e não está dizendo o que ELE quer ouvir!). Muitas coisas de Chico Buarque me cansam pois são quase como cápsulas de vitamina – com todos os elementos corretos, certos e adequados na mais perfeita dosagem para conseguir o efeito desejado do sucesso – agradando muitas vezes Gregos e Troianos. Sim um outro que, apesar de ter coisas lindas, também é muito repetitivo.
Estes sao só alguns exemplos que tentei relacionar ao Rio/Brasil... existem muitos outros...
Vamos ser sinceros, porque nao pode-se dizer que nao se gosta de certos personagens mesmo que sejam (como uma vez me disseram) ícones? O que sao "ícones" da música brasileira? Bethania? Buarque? E o que aconteceu a Villa-Lobos? Bidú Saiao? e a Paulo Forte, Dick Farney e Dolores Duran? Só para citar tres "bem diferentes"......
Acho as descrições de Dostojewskij longas, desnecessárias e cansativas (principalmente em "Crime e Castigo") e por falar em livros, sei que esta não vai agradar mesmo: Não suporto „O primo Basílio“ (1878) de Eça de Queirós. Um livro considerado um grande "clássico" e um dos meus grandes „desamores“ literários.
Acho os personagens, quase sem exceção, repugnantes, nojentos. Juliana, o montsro, foi concebida como uma pessoa repugnante. OK mas todo o resto? Eça de Queirós não foi nada gentil com a sociedade lisboeta. Luísa é um dos personagens por quem menos nutri qualquer tipo de simpatia, empatia ou afeição enquanto lia um livro. Pelo contrário. Ela é „vazia“, „oca“, sem sensibilidade e superficial. Sua relação com „o primo“ é enfocada sob uma luz que não deixa outra opção ao leitor a não ser considerá-la como mais um caso de „só“ sexo. Mas não foi a intenção de Eça de Queirós que ficássemos penalizados com dela, principalmente quando Juliana começa a transformá-la em sua própria empregada? Comigo seu „enfoque“ não funcionou, não me „tocou“. Luísa me irrita. Ela parece não ser feita de carne e sangue.
„Madame Bovary“ (Flaubert, 1857), outra „infiel“ da época, apesar de não brilhar por sua inteligencia e honestidade, nos atrai de certa forma. Ela quer sair do Millieu que habita e como uma grande sonhadora engana a si mesma com ilusões de amor. Notem, aqui falei de amor. Ela se mata por nao ver remédio para sua situação, para suas dívidas. Ela não se mata por amor porém.
„Anna Karenina“ (Tolstoi, 1877/78), mais uma traidora, que junto aos dois personagens citados anteriormente representa a essencia das amantes trágicas e infiéis do século XIX, era pelo menos (de certa forma) uma mulher mais inteligente e muito mais apaixonada – ela na realidade não se mata por sua situação ser irreversível e irreparável, porém por causa de ter sido abandonada pelo seu „amante“.
Na hora da sua morte Anna não pensou sobre seu filho, só pensou em si, no seu amor. Egoísta porém apaixonada. Apesar de eu achar particularmente que Tostoi nao muito entendia da complexa psicologia das mulheres: Anna e toda sua auto-estima, todo seu egoísmo e vaidade, jamais se lançaria à morte aniquilando radicalmente com aquilo quem mais tinha e que atraía todos: Beleza.
Mas, outra vez „amor“, desta vez relacionado a Anna, palavra que nunca posso usar nas relações de Luísa – nem com seu amante „o primo“, nem com seu marido.
Mas „tertuliar“ é realmente um exercício louco de „conexões“. Pelo menos comecei na Rússia com Tchaikowsky, de quem nao gosto, e terminei de novo lá com „Anna“, um livro que sempre me fascina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário