segunda-feira, 2 de junho de 2008

Dance, Girl, Dance (1940): I love Lucy???????

„Dance, Girl, Dance“ é um dos poucos filmes “clássicos” de Hollywood feito por uma mulher: Dorothy Azner. Êste filme foi feito com uma relativa “flexibilidade”, bastante comum no sistema de produção da RKO, um estúdio nao muito famoso por investir tempo e dinheiro em ensaios (como no caso da MGM e, depois, da 20th Century Fox).
Hoje em dia existe um interpretação toda “feminista” sôbre este filme – eu considero às vêzes estas interpretações realmente hilárias: é como tudo que anda sendo escrito sobre o “Cinema Nôvo”, ou seja, passamos à interpretar intelectualmente coisas que foram feitas intuitivamente... mas isto é uma tendência natural hoje em dia – tudo parece, no papel pelo menos, ser mais importante do que realmente é...

Este filme nao é nada de especial, na realidade muito trivial. Sómente muito interessante por mostrar Lucille Ball de uma forma muito diferente da qual a conhecemos... este é o único "valor" dele. A estória é simples mas repleta de detalhes bem pitorescos apesar de serem clichées básicos. A disputa entre as duas atrizes principais: Maureen O’Hara, vindo de uma aclamada atuação como Esmeralda no “O corcunda de Notre Dame” e, pasmem, Lucille Ball ainda bem antes de ter sido total- e definitivamente redefinida e reinventada para a comédia e para a TV... O antagonismo entre estes dois personagens é interessantíssimo: Maureen, a bailarininha clássica e Lucille, “Bubbles”, aquela que abandonou o ballet clássico para transformar-se numa rainha de burlesco, dançando até o “Hoola” e com muito “Oooomph” (Até hoje “Ooomph” nao foi realmente definido mas Anne Sheridan, a “Ooomph-girl” deveu sua carreira a êle,). Lucy, corajosa- e descaradamente inspirada pela stripper “Gypsy” Rose Lee, tem dois números musicais, um dêles (“My mother told me”) involvendo parte de sua roupas sendo levadas pelo “vento”. Ela é uma mentirosa manipuladora, uma mulher oportunista e vulgar e de moral “questionável”, que sugere a dose certa da promiscuidade aceita pelo público da época. Mesmo ainda não “redefinida” (seu alter-ego “Lucy Ricardo” ainda estava longe de nascer) ela dá algumas escorregadas nada intencionais no campo da comédia e brilhos daquela cômica maravilhosa em que se transformaria, vêm à tona. Lucille mostra um lindo corpo com umas pernas de dar inveja, só alguns anos depois de suas “figurações” (ainda como uma platinum-blonde) em veículos de Astaire e Rogers (como “Top Hat”, “Follow the fleet” e “Roberta”), seu pequeno e simpático papel no incrível “Stage door” de Gregory LaCava ao lado de Katherine Hepburn, Ginger Rogers, Ann Miller, Eve Arden e várias outas e alguns anos antes de ser transformada “na” readhead glamurosa da MGM em “DuBarry was a lady” com Gene Kelly e Red Skelton, que também não viviria muitos anos.
O STRIP-TEASE: "My mother told me"
Outros números “sérios” musicais – qualquer similaridade à ballet clássico não é intencional e pura e mera coincidência - são realmente muito estranhos (os bailarinos parecem estar vestidos como os habitantes do planêta Mongo – vide Flash Gordon... ) e se alguém disser que há uma referência à coreografia de Gene Kelly para “An american in Paris” (1951), eu pulo do próximo penhasco!

Maria Ouspenskaya repete o papel de professôra de ballet que interpretou no clássico (também de 1940) “Waterloo Bridge” (com Vivien Leigh e Robert Taylor), um filme de muita poesia.
Outro detalhe interessante: o filme foi editado por Robert Wise – que editaria logo em seguida “Citizen Kane” e que se transformaria no famoso diretor de “West Side Story” e “The Sound of Music”.
A estória é da austríaca Vicky Baum – que tinha conhecido “outras” épocas mais “prósperas” e de mais prestígio, como por exemplo durante a época do seu “Grand Hotel” com Garbo...

Em 2007 “Dance, Girl, Dance” foi selecionado para a preservação futura no Registro Nacional do Filme dos Estados Unidos pela Biblioteca do Congresso por ser “culturally, historically, or aesthetically significant” – piada esta digna de Lucy...

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