terça-feira, 29 de março de 2016

Glorious: Florence Forster Jenkins



Independente de suas (inquestionáveis) qualidades artísticas, temos que considerar Florence Forster Jenkins uma pessoa afortunada: uma que realizou seus sonhos na vida… e como!


Considerada nos seus “dias de glória” uma das piores cantoras que este mundo já presenciou, ela disse: “Some people say I cannot sing, but no one can say I did not sing!” (Algumas pessoas dizem que não posso cantar, mas ninguém pode dizer que não cantei!”).

Sua falta de ritmo, altura e tom (como imortalizadas em suas gravações) assim como sua terrível pronúncia (em qualquer língua) tornaram-se legendárias. Ridicularizada por todos, ela era objeto de gargalhadas durante seus “Concertos” porém esta mulher alegre e incansável, negou-se a deixar-se desiludir…


Sua vida foi analizada na peça “Glorious” (Erroneamente interpretada por Marília Pera em tons de “comédia”. Lembro.me de ter saído na metade do espetáculo), no filme frances inspirado em sua vida “Marguerite” e brevemente no cinema, com ninguém menos do que Meryl Streep dando vida a esta lutadora que tornou-se “culto” ainda durante sua vida: não podemos esquecer que “grandes” nomes da época como Noël Coward e Cole Porter assistiam seus recitais, normalmente feitos em hotéis como o Ritz para um publico seleto. Para evitar “jornalistas” e bisbilhoteiros Florence vendia pessoalmente as entradas, que eram disputadíssimas. Os artigos, que depois apareciam em jornais e revistas, eram escritos ou por ela mesma ou por amigos (Nota ironica da redação: Atenção para esta “auto-promoção”; já existente em épocas anteriores ao “Facebook” onde muitos parecem promover-se incansávelmente).

Não vou estender-me sobre dados biográficos da “diva do grito” (como também foi chamada) pois para isto a internet oferece muitas possibilidades mas não podemos deixar de acentuar um valor único que Florence teve. Ela até hoje é, indisputávelmente, a pior intérprete que Mozart, Strauss, Verdi & co. já tiveram em toda a história. Ela possuía uma forte segurança sobre seu “talento” e seu repertório era o que poderíamos chamar de dificílimo.



Gravou discos (nove árias ao total em 78rpm): seus amigos e seguidores tentaram convence-la de não gravá-los (pois achariam que ao “se ouvir” reconheceria sua total falta de talento) mas ela não deu nenhuma importancia a esses conselhos.

Acreditava piamente que suas gravações preservariam seu talento para futuras gerações, que seriam seu, por assim dizer, "legado" para o mundo das Artes.
E, aqui pergunto, estava errada?

Abaixo coloco um link de uma de suas preferidas árias: a da “Rainha da Noite” de “A flauta mágica” de Mozart (que deve se virar dentro do túmulo ouvindo-a… Sinto, um exemplo mal escolhido: não se sabe até hoje onde Mozart foi enterrado, já que foi tratado como um indigente): Ouvimos Florence até hoje! (E sabemos até onde está enterrada)



Aos 76 anos Florence “aceitou” apresentar-se para um público maior do que nos recitais do “Ritz” e estrelar um concerto no aclamado “Carnegie Hall” (só nos USA uma coisa assim é possível, não é verdade?). Como os ingressos se esgotaram em poucas horas, mais de duas mil pessoas tentaram fútilmente conseguir entradas na última hora…

Quem assistiu garante que foi uma apresentação inesquecível.
E interminável.
Entre uma ária e outra intervalos enormes eram necessários para Florence poder mudar seu elaboradíssimo figurino. Sua roupa com asas — ela a chamava de “Angel of inspiration” — tornou-se um clássico.
Conta-se que Tallulah Bankhead riu tanto durante a apresentação que teve que ser retirada do teatro
(Nota: Florence sempre disse que as risadas dadas durante suas apresentações eram dadas por pessoas que haviam sido pagas por “suas invejosas rivais”).



Um mês depois do concerto, Florence morreu. Há quem atribua a morte à depressão por, enfim, dar-se conta da reação do público em relação à sua “arte”.
É difícil de acreditar.
Em 32 anos de carreira, Florence, certamente, conheceu todo tipo de reação. Não seriam algumas gargalhadas mais escancaradas que a fariam desistir. Florence era uma estrela e sabia como tornar sua platéia feliz.

E ela realizou seus sonhos…

E brevemente no Cinema (mal posso esperar!):

5 comentários:

Tindaro Silvano disse...

Super interessante.. Eu conheço as gravações de Florence Foster Jenkins ha muitos anos. Só de curiosidade: Ohad Naharin usou suas musicas em seu ballet "Perpetuum" remontado para varias cias ao redor do mundo, incluindo aí o Ballet Gulbenkian e o Balé da Cidade de Sao paulo.

Jutilde de Medeiros disse...

RICARDO

Como pode? Era realmente sem voz.......que corajosa...

PoeiradasEstrelas disse...

Estou curiosa para ver o filme.

Mary Castro disse...

Nunca ouvi Florence Forster Jenkins, mas depois de sua breve narrativa, fiquei curiosa de ver o filme sobre ela.

Regina Ferraz disse...

Ricardo querido.Adorei a Florence com a vóz
mesmo muito hilaria,porém chic e uma mulher divertida e certamente muito rica em ambientes luxuosos.
Uma outra época aonde era facil o sucesso mesmo extravagante.Porém Maryl Streep é divina!!! Uma
atriz que poderia vêr um filme com ela todos os dias.
Que interpretação fantástica. Aquele pedacinho da Florence é demais.Beijos querido.Sempre adoro suas tertulias....Breve nos veremos...