terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Twyla Tharp, Hare Krishna, muita dança, Central Park... Alucinações sem LSD…



„Hair“ (Miloš Forman, 1979) é um filme que em partes me fascina, em outras me cansa…


A linguagem, para a época, tão conteporanea de Forman se perde num estilo que às vezes muito carece de criatividade… As cenas de dança, porém, coreografadas por Twyla Tharp, são momentos de puro prazer – extremamente bem fotografadas por Miroslav Ondříček (o que é muito raro num cinematógrafo que não é especializado em “dança”) elas são exatamente a melhor moldura possível para o trabalho de Tharp. Apesar de certa forma achar que a palavra “moldura” não é exatamente muito adequada… em si o trabalho de Twyla Tharp, apesar de rigorosamente ensaiado e metódicamente interpretado por bailarinos com grande formação técnica (também clássica), nos passa a impressão de pura liberdade… e porque emoldurá-la e não deixá-la livre? Mas esta é só a impressão que seu trabalho passa...

A mesma que nos deixava acreditar que tudo que Fred Astaire fazia era tão fácil…

Muitas de suas ex-bailarinas sofrem até hoje de artrose... ou seja, nada daquele "bom trato" ao corpo que muitos "contemporaneos" pregam...


Gosto de, à vezes, frisar certos comentários: por acaso um dia destes, comentando uma foto minha que havia encontrado há pouco tempo, reclamei de nela não “ter esticado o pé um milésimo de segundo antes”!!! Uma pena. Um ex-bailarino do meu tempo se referiu então à uma coreógrafa que na época andava pelo Rio (e que até trabalhou com Twyla nos anos 60) e disse que “ela nunca exigia que ninguém esticasse nenhuma parte do corpo”.


Este é o “pointe” pois aí está a diferença: Twyla exigia, exige. E este é o grande abismo entre os bailarinos contemporaneos com técnica e outros que não a possuem e usam este cliché de “ser contemporaneo” como uma boa desculpa para dançar de forma “desmazelada” sem a menor consideração técnica. Já vi muitos deles e cansei… que coisa mais envelhecida.

“Hare Krishna” é uma cena altamente inteligente. Isto podemos constatar no simples fato dela não ter „envelhecido“ 34 depois de ter sido filmada. Os hippies não parecem figuras caricatas de outros tempos, a camera é dinamicamente veloz, os cortes precisos dando o ritmo perfeito à linguagem de Forman/Tharp, a coreografia de Twyla é imortal, jovem, dinamica, criativa – como tantos dos seus primeiros trabalhos para o palco: Eight Jelly-Rolls, Push comes to Shove, Sue’s Leg, 9 Sinatra Songs e por aí vai a lista.


Mas o mais importante ainda deve ser dito: nesta cena dois movimentos culturais de duas diferentes geracões se derretem um no outro, transformando-a num delicioso “Mèlange”.
De um lado a música que nos fascinou nos anos 60, hinos de toda uma geração… do outro os movimentos de Twyla que se transformaria numa verdadeira sacerdotisa da dança nos anos 80, antes de ter caído no cliché que criou para si mesma e ter passado a acreditar nele. A música não se “adapta” à imagem que Tharp dá ao filme, Twyla não se adapta à música dos anos 60. As duas, numa maravilhosa simbiose, existem ao mesmo tempo individalmente e paralelamente unidas.


Momento único que nos faz, lá no fundo do escurinho do cinema, viver estes momentos loucamente – sem ter que, como John Savage na tela, tomar um ácido para alucinar…


Momentos mágicos e alucinates: a sacerdotisa (alguém me ajude: é Rose Marie Wright?) , o “ballet” na igreja e Beverly D’Angelo (que depois seguiria uma carreira tão insignificante) como a noiva grávida, de cócoras, “ciscando” o chão da Índia… Brilhantes imagens!

Nenhum comentário: