segunda-feira, 17 de maio de 2010

"Chéri", Colette, Pfeiffer e (O doce Pássaro da) Juventude...

O que? Ricardo tertuliando sobre um filme feito “depois de 1945”? E ainda por cima deste século? Um item assim “tão” moderno? O que????? Mas... (Digam o que digam de mim: jamais perderei meu senso de humor e nem deixarei de rir sobre mim mesmo…
Mas como diz a música de Jacques Prévert: «Je suis comme je suis, je suis faite comme ça…»).
Na última semana assisti em duas noites consecutivas «Chéri» filme de 2009 de Stephen Frears e com a linda Michelle Pfeiffer no papel principal (Explicação: assisti o filme na primeira noite e o reassisti na noite seguinte!). Baseado no romance homonimo de Colette, o filme é mais uma outra «excursão» no pequeno (demi)monde das cortesãs parisienses (que em sua época “governaram” de certa forma o país, arruinaram homens – como o rei da Bélgica – e por nunca conseguirem um “status” de mulher casada, exigiam “muito” e tornavam-se riquíssimas… bem, uma grande parte, pelo menos).

O filme, sem dúvida, aborda o tema de forma um pouco mais «real» do que as cortesãs que vimos ao lado de Leslie Caron em «Gigi» e mais fiel à (picante) obra de Colette.

Sim, as cortesãs... Léa (Pfeiffer) é uma delas. Já um pouco mais madura, ela comete um pequeno malheur: se apaixona por um jovem rapaz (Chéri). Ainda bonita, ela leva corajosamente à frente um relacionamento que (do ponto de vista de Colette) mostra como frágil o homen é quando comparado à mulher. Ela paga todas as despesas de Chéri. Ela lhe compra presentes. Ele usa sua pérolas. Ele dorme em pijamas de seda. Ele é o «brinquedo» e ela, em sua (provávelmente última) «paixão», esquece-se que ele um dia deveria transformar-se num homem. Ele permanece emocionalmente um menino de 12 anos. O egoísmo de Léa, que alimenta o seu medo da idade, consome Chéri.

Num certo ponto do filme, o «tempo», cruel com Léa, finalmente chega. Nós, como público, notamos alguma coisa, alguma coisa muito sutil. Eu não consegui descrever, articular o que via. Não soube definir o que Stephen Frears me mostrava.
Quando Léa disse porém a frase «E o que voce encontrou quando voltou? Uma mulher velha…”, entendi o que via.
Sim.


A sutileza da camera, da maquiagem, da iluminação não nos contou aberta- e óbviamente o que tinha acontecido. Não transformou Léa de um momento para o outro em uma velha.
Muito sutilmente nos mostrou como ela envelheceu. Como num encontro com um amigo que não se ve há muito tempo. Como demora-se a perceber o que o tempo pode devastar… O filme trata com extrema delicadeza, sensibilidade e respeito, não só no plano emocional como também no cênico, o preciso, fragilíssimo momento em que a juventude abandona o rosto de Léa. Bem ao contrário da forma brutal e quase grotesca com que “Alexandra del Lago” (heroína de Tennessee Williams) é tratada em “ O doce Pássaro da Juventude”. Mas esta é uma outra estória que ficará para outra vez...

O que impressiona é esta colaboração íntima entre Pfeiffer e Stephen Frears, já datada das filmagens de “Les Liaisons dangereuses” (abaixo com Malkovich).
Muito pode ser lido sobre a falta de «vaidade» de Pfeiffer durante as filmagens de "Chéri", como todo o efeito de “velhice” foi conseguido só com o efeitos de luz, etc. etc.… O que importa? O resultado é belo. Digno. Bom cinema.

Colette escreveu uma continuação para Léa e Chéri (“Le fin de Chéri”) e a última cena do filme explica em questão de segundos todo o segundo livro (inclusive seu final). Todo um livro estampado em um take, no rosto de Pfeiffer. Mais uma vez a “filosofia” de Colette que a mulher é bem mais forte que o homem. Custe o que custe. “Take” genial. Direção soberba!

(E, detalhe, que produção, que excursão pelo mundo da Art nouveau… de cenários a figurinos… )

Cinema de altíssima qualidade emocional e artesanal. Ótimos atores (a grande Kathy Bates quase “rouba” o filme). Digam os críticos o que quiserem. Eu amei este filme e o recomendo a todos que não o assistiram… É “daqueles” que nos movem e incentivam a ler livros… E - posso ser sincero? - Pfeiffer é absolutamente linda (e muito "apart") em qualquer idade!

Um comentário:

VICTOR DOUGLAS disse...

Vi hoje o filme e concordo totalmente com a sua crítica. Soberbo filme!