segunda-feira, 10 de agosto de 2009

As loucas e geniais inventividades de Marlene Dietrich

Nao é à toa que esta mulher transformou-se num mito ainda durante a vida.

Ela transformou-se.
Sim, ninguém mais, ninguém menos do que « Marlene » (o nome com o qual Maria Magdalena praticava sua caligrafia, como descoberto em vários cadernos de escola, como se ela já soubesse no que se transformaria) transformou “Marlene” em "Marlene". Da gordota mãe, nao mais tao jovem para a época, à Lola-Lola, que causou um grande furor (já um pouco mais magra) na época em “O Anjo azul” /Der Blaue Engel, 1930, do austríaco Josef von Sternberg (que transformaria-se numa espécie de seu “Pigmalião”. Bem, ela deixou-o acreditar nisto). Até hoje se comenta que Sternberg colocou "actrizes" mais gordas, mais velhas do que ela no palco para, de certa forma "rejuvenece-la".

Dietrich entendia muito de iluminação (normalmente do alto para realçar mais suas maçãs facias), de guarda-roupas, de Maquiagem, de perucas (foi ela que recomendou a Vivien Leigh, outra perseguida pelo problema da calvície um manufator de perucas em Paris), de trejeitos (como aqueles olhos semi-abertos), de truques (a voz que transformou-se de um soprano “gasguito” numa das vozes mais graves femininas das telas de cinema). Não sabia muito sobre a arte de representar… mas para que ? Ela, em sua concepção “estelar” estava acima disto… Sua filha fala uma coisa muito interessante na seu livro “Meine Mutter Marlene”: ela conta o fato muito abertamente que sua mãe jamais acreditou que iria morrer… e lendas morrem? A lenda bebeu muito café e fumou loucamente para emagrecer... emagrecer...

Aqui tres exemplos (só tres, existem mais!) das loucas inventividades, das geniais loucuras desta mulher que, como contado por Billy Wilder, passava HORAS olhando-se na frente de um espelho… estudando-se… para alcançar efeitos desejados no mundo do celulóide! Claro que uma certa dose de narcisismo contribuiu muito...

Na sua estréia americana ela, logo em sua primeita cena com “Chanteuse” não mostra o que as audiências americanas estavam esperando. As famosas pernas de “Lola-Lola”. Como Amy em « Morocco » (1930) ela aparece de calças compridas, vestida de homem (e ainda dá um beijo na boca de uma figurante).


Em “A Venus Loura” ( The Blonde Venus, 1932) ela teve um outro "acesso de loucura" para o número “Hot Voodoo”. Além de sair de dentro de um gorila, coloca esta cabeleira loura e uma das roupas mais ousadas em termos de loucura/ demencia que o cinema viu até hoje… em frente ao público e com um olhar de extrema arrogancia. Diva. E muito louca.


Também neste filme ela troca, vestida de homem mas desta vez de branco, umas carícias com uma corista no palco! Sempre estas "sugestoes" sexuais, ainda aceitas numa época anterior ao código de censura que logo colocaria Hollywood em panico. Aqui ela com um jovem Cary Grant.

Sua idéia mais incrível nesta época (e descrita em seis páginas de livro) é a busca pelo tecido que teria que ser usado como um véu para seu chapéu em “Shanghai Express” (1932) no qual ela interpreta “Shanghai Lily”, uma prostituta com diálogos do mais absurdos da história do cinema (mas com dois pointes bem interessantes… Ela chama-se na realidade “Magdalen” e fala irresistívelmente “It took more than one man to change my name to Shanghai Lily”:

Depois de semanas buscando uma idéia, um tecido, ela encontrou-o por acaso em cima de uma mesa de uma costureira da Paramount e apesar de só ter uns 30 centímetros dele, ela soube: este seria perfeito! É! Levou-o e costurou ela mesma o véu em sua boina/chapéu… E como eu disse… seis páginas de livro para descrever esta busca, este problema… como eu adoraria se meus problemas fossem assim, tao fáceis... (tenho que rir… sorry!).

Mas olhem o efeito… Dietrich, the self-made Goddess… Ela sabia o que estava fazendo. Gosto destas pessoas com "visoes" claras, objetivas sobre si mesmas. Acho que jamais teria-me encontrado com Dietrich para um chá, para bater papo (como teria adorada com Gladys Cooper, Estelle Winwood... ou ficar sentado na cozinha de Montserrat Caballé por horas se ela cozinhasse uma boa paella... quem sabe um dia...), mas admiro este seu "feeling" única- e exclusivamente visual... Nisto ela era simplesmente genial!


Eu visitei seu túmulo em Berlim. Pois é, lá está Maria Magdalena Sieber enterrada entre uma Frau Müller e uns Senhores Mayer da vida… O mito, a lenda… como se não acabássemos todos iguais…

Um comentário:

Fernando Luis disse...

Concordo quando se afirma que ela era genial na forma como estudava toda a sua aparência e forma, a diva criou o mito, com muita inteligência e arte.