Sou sincero: sempre amei este nome… „Cachucha“...
Fanny (Franziska) Elssler, a bailarina austríaca que foi uma das maiores estrelas do Ballet romantico era muito conhecida por suas interpretações de danças „nacionais européias“ e certamente agradece esta reputação à sua „Florinda“ do Ballet „Les Diables boiteux“ de Jean Coralli (Paris 1836) que bailou „Cachucha“ com castanolas… Elssler virou „moda“ e seu vestido „espanhol“ preto e rosa ficou tão „en vogue“ que foi copiado pelas parisienses (sempre) conscientes de moda . Muitos comparam „Les Diables“ à Ópera „Carmen“. Tendo sido criados em França, davam todo um toque mais exagerado, quase caricato ao que era considerado „Español“. Viraram moda, grandes sucessos. E muitos insinuam que, até hoje, grande parte do temperamento espanhol visto no folclore na Espanha, é na realidade uma coisa „importada“, um fruto de França… Seria até lógico…
Elssler, foi até hoje, o único produto „de fama“, a única real estrela do Ballet austríaco. Infelizmente, como com Taglioni, Grisi ou Cerrito é muito difícil interpretar o „grandeur“, a graça, a técnica destas bailarinas. Delas existem litografias, pinturas, estátuas… mas nenhum material que se „mova“. Que pena.„La Sylphide“ (1832) criado para Marie Taglioni (que tinha aliás debutado como Bailarina em Viena em 1824) por seu pai, Filipo Taglioni, que não só criou a nova imagem da „Bailarina romantica“, foi também foi o primeiro Ballet no qual dançar „en pointe“ adquiriu uma (nova) estética racional e elegante ao contrário do „show“ acrobático de até então (muitas vezes com movimentos de bracos sem muita elegancia, como relatado em críticas do final dos anos 1820). Imaginem o que seria dançar nos sapatos de ponta da época!
Quando Fanny Elssler estreiou com o Ballet du Théâtre de l’Academie Royale de Musique (hoje conhecido como o Ballet da Ópera de Paris) conseguiu eclipsar temporariamente a „rainha da casa“, Marie Taglioni, que apesar de ser para muitos uma artista superior à Elssler, não conseguiu competir com a fascinação que Fanny exerceu sobre as platéias francesas. E, exatamente em „Cachucha“ ela conseguiu brilhar mais do que qualquer uma de suas rivais e contemporaneas. Fanny Elssler também tinha sido instruída nos segredos do Ballet romantico por Taglioni, pai.
Elssler, que teve uma filha „de um caso extramarital“ que foi criada pela esposa de um membro do parlamento britanico, fez fantásticas viagens para a época. N.Y., Rússia, Cuba… Lembro-me de estar no centro de La Habana (Havana) no meio dos anos 90 e ter-me deparado com uma plaqueta numa casa na qual dizia que esta tinha sido a residencia de „la famosa bailarina austriáca, en su tournée por América Latina en 1840“. Agora eu pergunto, isto sim era viajar, não é verdade?
Elssler recusou em 1845 dançar ao lado de suas rivais Carlota Grisi, Fanny Cerrito e Marie Taglioni em „Pas de Quatre“. Lucille Grahn aceitou imediatamente a proposta de Jules Perrot e entrou no seu lugar. Este „Divertissement“ estreiou em Londres em Julho de 1845 e para evitar guerras nos bastidores Perrot resolveu colocar a ordem de entrada delas de acordo com a idade, ou seja, da mais nova para a mais velha. Eu, particularmente nao entendo como Taglioni nao sentiu-se „insultada“. E também tento imaginar o que teria acontecido em termos de inveja, intrigas e nervos se Elssler tivesse tomado parte no Pas-de-Quatre. Elssler tinha dançado „La Sylphide“ para calorosas platéias parisienses e para o desgosto de Marie, a quem Fanny causou muitas lágrimas. Elas nao eram exatamente o que se descreveria como "amigas". "Pas de Quatre" só foi bailado quatro vezes por seu "elenco" original.
Quase 100 anos mais tarde, in 1941, Pas de Quatre foi reencenado por Anton Dolin, também em Londres. As Bailarinas que ele usou foram, por ordem de entrada: Nathalie Krassovska como Lucile Grahn, Mia Slavenska como Carlotta Grisi, Alexandra Danilova como Fanny Cerrito e Alicia Markova como Marie Taglioni. Muitas producoes seguiram. Eu me lembro de Cristina Martinelli como Taglioni no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Elssler deixou de dançar em 1845 e, muito rica, mudou-se para Hamburgo. Sua irma Theresia, também bailarina, contraiu um matrimonio morganástico com Principe Adalberto da Prússia e tornou-se a Baronesa de Barnim.
Fanny morreu aos 74 anos em 1884 alguns meses depois de seu “nemesis” Taglioni que já tinha 80.
Hoje seu túmulo está no Cemitério de Hietzing, a cinco minutos de minha casa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário