quarta-feira, 13 de abril de 2011

Seems like old times: Uma canção e „Annie Hall“ ( ou “Memórias e os Ovos”? )

Sabemos, e está provado, que o olfato desperta nossas mais antigas e profundas memórias… Toda vez que chego ao Rio e no aeroporto do Galeão, sorry, Tom Jobim entro num taxi, sinto “cheiro de Rio” – aquela exagerada humidade do ar, misturada com o verde da baía de Guanabara e toda aquela fascinante poluição unida à pitoresca “sujeira” que nos dá as “Boas-Vindas” à cidade maravilhosa.

A caminho da Zona Sul sempre me “pego” relembrando coisas que se passaram já há décadas… Old times… Viagens para Penedo, aquele caminho antigo pela Avenida Brasil para pegar a Dutra em direção a São Paulo, adolescencia... Como era bom sair do Rio...

A música exerce sobre mim o mesmo efeito e estranhamente “tropecei” numa velha memória, que ainda por coincidência cita ostentativamente “old times”…



"Seems Like Old Times" é uma lindíssima, romantica canção popular bem emocional... música e letra de Carmen Lombardo & John Jacob Loeb de 1945.

Ela não foi gravada muitas vezes (fala-se de uma boa versão de Ella Fitzgerald de 1968) e eu só vim conhece-la através de “Annie Hall” (bobamente chamado no Brasil de “Noivo neurótico, Noiva nervosa”), sensível filme de Woody Allen de 1977 no qual ela tem um papel central no enredo – também nas memórias do personagem masculino principal “Alvy Singer” (Allen).





Interpretada pela "levada" Diane Keaton (que por este filme aliás, ganhou um Oscar), com aquela vozinha dela que “mal chega” mas que é afinadíssima, extremamente efetiva e muito agradável, ela tornou-se um “hino” da minha juventude. Em 1977 o mundo estava todo ali, esperando por mim, esperando para ser descoberto… E eu acho que revi “Annie Hall” no cinema pelo menos umas dez vezes. Adorava o filme e também aquele „LOOKDiane Keaton que na época nos influenciou muito… muito mesmo... (a mim até hoje!)



Gravei as músicas e vários diálogos com meu gravadorzinho, vi uma sessão de “meia-noite” no Caruso ser interrompida porque um morcego estava voando na sala, fui acompanhando o filme até ele acabar sua “tournée” pelo “circuito” dos cinemas do Rio…

Comédia de Woody Allen? Definivamente. Mas também uma das maiores declarações de amor já colocadas nas telas… Um “mundo” composto de N.Y., livros, ativismo político, Mozart, depressão, metafísica, memórias de infancia, crises existenciais, programas de rádio e TV, músicas, ciúme, psiquiatras, amor, reflexões… e aquele descabido amor que Woody sente por N.Y.



Diane Keaton a canta num “Night-Club”, com seu jeito todo pessoal:

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A segunda vez porém, na qual “Old times” é tocada, somos confrontados com Allen e Keaton, aliás Alvy e Annie, se reencontrando, muito tempo após sua separação, num café em Manhattan (e depois com uma série de sentimentais “flash-backs” dos dois). No final desta cena Woody nos conta uma velha piada de Groucho Marx:

Um homem vai a um psiquiatra e diz
- “Doutor, o meu irmão está maluco, pensa que ele é uma galinha”
("Doc, uh, my brother's crazy; he thinks he's a chicken.")
- “Bem, porque voce não o interna?”
("Well, why don't you turn him in?")
- “Eu o faria... mas preciso dos ovos… “
("I would... but I need the eggs.")

E arremata, terminando o filme com este lindo pensamento (não tão típico para uma comédia mas “Allen” em sua essencia):

“Bem, eu acho que é bem assim o jeito como me sinto sobre as relações; voce sabe, elas são totalmente irracionais e loucas e absurdas… Mas eu acho que seguimos vivendo-as porque, a maioria de nós… precisa dos ovos”
(Well, I guess that's pretty much now how I feel about relationships; y'know, they're totally irrational, and crazy, and absurd, and... but, uh, I guess we keep goin' through it because, uh, most of us... need the eggs)

Tudo isto ao som dos acordes e notas finais de “Seems like old times”.

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Genio não se discute… Um filme vencedor de 4 Oscars, entre eles os de melhor filme (1977), melhor diretor (Allen) e melhor atriz (Keaton). Woody Allen e seu uso inimitável e original da música americana nos seus filmes!

Detalhe: “Annie” é o apelido com o qual Keaton sempre foi chamada por sua família, “Hall” é seu real sobrenome…
O filme seguinte de Woody foi "Manhattan" (também com Keaton e mais uma cena com a Brooklyn Bridge) - outra declaração de amor... desta vez porém à N.Y.

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