sábado, 19 de maio de 2012

REMEMBERING: (Remember) “my forgotten Man”... & Joan Blondell…


Muitas vezes já me referi aqui ao que chamo de canções «de vítima». Aquelas canções sobre a mulher eternamente sofredora, dependente de um só homem e fiel a ele mesmo que ele bata nela, a traia com outras e tire seu dinheiro deixando-a com fome… Um dos cúmulos desta série de canções é «My Man», hoje conhecida pela interpretação de Barbra Streisand, mas originária da Broadway na voz de Fanny Brice… e cantada até por Sarita Montiel!!!!


O teatro musical ofereceu ao seu público muitas destas “renditions” como a famosa “Bill” de “Show Boat”, lançada pela problemática Helen Morgan (que na vida real era uma destas “vítimas”) e depois interpretada por Ava Gardner no cinema.
No disco da trilha sonora do filme da Metro voces poderão ouvir a verdadeira voz de Ava – esplendida – que posteriormente foi dublada no filme. Ava, que muito lutou pelo papel da trágica “Julie” havia se dedicado muito à interpretação das canções de Jerome Kern e ficou decepcionadíssima ao descobrir que a Metro havia substituído sua voz… Coisas inexplicáveis do Cinema…


Mas um dia destes me lembrei de uma “canção de vítima” na qual a cantora (e relatadora dos fatos) não é uma vítima de “seu homem”, porém de uma situação social sob a qual seu homem está sendo humilhado… Os soldados que voltam da guerra e não mais encontram seu lugar na sociedade. Nem emprego, nem reconhecimento…


“Remember my forgotten Man” é (incrívelmente) o número final de “Cavadoras de Ouro de 1933” (Gold Diggers of 1933) e, sim, voces estão certos: eu me lembrei deste número pois na postagem passada mencionei as mesmas “Cavadoras” (mas no filme de 1935).


"Remember My Forgotten Man" é cantado por Joan Blondell , bem no genero de Fanny Brice...

O número tem uns sets interessantíssimos, principalmente por que são óbviamente influenciados pelo Expressionismo alemão (coisa particularmente rara na história de Hollywood) evocando óbviamente a triste atmosfera de pobreza e frustração da Era da Depressão (coisa particularmente ainda mais rara nos musicais, que eram exatamente veículos de extremo escapismo nestes anos).

Impressionante a decisão de Darryl Zanuck de colocá-la como número final do filme, deslocando um outro número (ingenuo, leve, escapista…) “Pettin’ in the park” para um outro trecho do filme… Ousadias corajosas… (Gosto de coragem e de “Faro” cinematográfico misturados... Gosto muito... ).


Mas, assistam ao número… e digam-me o que acham…

Depois do video, um pouquinho sobre Joan Blondell, que é, na realidade, motivo para uma outra ”Tertúlia”, mas não resisti…



Nota "Tertuliana": Joan Blondell, grande nome do Cinema dos anos 30 (e na época casada com o “astro”, Dick Powell), “roubou” o filme (inclusive da coadjuvante Ginger Rogers que teve seu principal número – “I’ve got to sing a torch song” - cortado)!

Será que alguém ainda se lembra dela?


Blondell, ao meu ver, hoje em dia totalmente esquecida teve um carreira muito interessante, bastante rica na realidade… mais de 60 filmes, fotos “censuradas” pelo “Hayes-Code” como esta (bem "risquèe"),


E papéis de caráter como em “The opposite sex” ao lado de June Allyson, a segunda esposa de Dick Powelll. Voces a reconhecem entre June Allyson, Joan Collins, Ann Miller, Dolores Gray e Ann Sheridan? Gordinha...


Joan Blondell foi também casada com o produtor Mike Todd, antes deste se apaixonar por Elizabeth Taylor e morrer num trágico desastre aéreo…

Nos anos 70 ela publicou um delicioso livro, que tenho aqui em casa, chamado “Centre Door Fancy”, uma auto-biografia “disfarçada” (pois ela fala de si mesma na terceira pessoa) com detalhes extremamente interessantes, picantes, frustrantes, trágicos e até dolorosos (sem revelar nenhum nome real) de toda uma vida no “Show Business” – do “Vaudeville” a Hollywood. Provou que uma atriz PODE escrever... e como!


Muito recomendável!


Mais sobre Joan brevemente!

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