sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Supporting actors/actresses V: Estelle Winwood


A quinta postagem desta série segue distintos nomes do teatro e cinema como Mary Boland (agôsto de 2008), Gladys Cooper (outubro de 2008), Jean Hagen e Elsa Lanchester (novembro de 2008) é dedicada a outro rosto, um rosto muito interessante por sinal, que vimos e revimos muitas vêzes ao passar dos anos: a deliciosa Estelle Winwood.

Estelle “Goodwin” nasceu em 1883 (algumas fontes dizem 1882) , em Kent/ Inglaterra e “decidiu” aos 5 anos de idade tornar-se atriz! Ela frequentou a escola de teatro da “Liverpool Repertory Company” antes de ir para Londres, trabalhar no West-End. Estamos falando de 1899! Depois de muitos anos de experiência no teatro inglês, ela resolveu ir em 1916, já não mais uma “criança” para a época (33, 34 anos), para os Estados Unidos onde ela debutou na Broadway.

Até o início dos anos 30 ela dividiu sua carreira entre os palcos londrinos e americanos e seus muitos sucessos foram “Why marry?” (1918) que tem a distinção de ser a primeira peça da Broadway a ganhar um Pullitzer Prize, “The Circle” de Somerset Maughan (1921), “The Importance of being Earnest” (que ela também dirigiu em 1939) e “Lady Windermerer’s Fan” (1947), ambos de Oscar Wilde, assim como “O pirata” (“The Pirate”,1942) que depois no cinema viraria um musical com Judy Garland e Gene Kelly dirigido por Minnelli e musicado por Cole Porter, “Ten Little Indians” (1944) e “A louca de Chaillot” (“The Madwoman of Chaillot”, 1948), uma magnífica peça do fantástico Jean Girardoux que muitos anos depois transformou-se num bom (porém esquecido) filme com Katharine Hepburn.
Aqui uma de minhas fotos preferidas de Estelle, como a "Madwoman".

Como uma grande maioria de atores do seu tempo, Estelle expressava uma aversão ao cinema… Tanto que só debutou no cinema em 1933 (já com 50 anos) em “The House of Trent”, apesar de ter-se destacado pela primeira vez só aos 54 anos em “Quality Street” (1937), um veículo para Katharine Hepburn, que estava numa fase muito crítica de sua carreira, tendo sido rotulada “Box-Office-Poison” (ao lado de grandes ilustres da “Silver Srceen” como Garbo, Crawford e vários outros).
Ela, apesar de muito calma, sempre foi conhecida por atitudes muito inesperadas e surpreendentes... como por exemplo trabalhar na televisão ("Blithe Spirit", 1946) numa época em que esta ainda engatinhava... Nos anos 50 ela trabalhou muito na TV em Shows semanais como “Robert Montgomery presents...”, Alfred Hitchcock presents...”, “Donna Reed presents...”, “Anne Sothern presents...” e o ótimo “Studio One”. Todos programas que lhe davam oportunidade de apresentar-se em vários personagens e mostrar sua versatilidade...

Estamos falando de uma atriz secundária, de muito pêso e carisma, que já estava com seus setenta e poucos anos, quando realmente encantou-nos com uma mágica interpretação da Fada-Madrinha de Cinderella (Leslie Caron) em “The Glass Slipper” (“Sapatinho de Cristal”, MGM 1955) e como a engracadíssima Tia de Grace Kelly no eterno “The Swan” (“O Cisne”, MGM 1956) de Mólnar.

A Fada-Madrinha é uma criação mais do que excepcional. Nela vejo um pouco de uma mendiga, de uma velha Hippie, de uma filósofa, de uma louca de rua, o sopro de uma Diva e muita, muita mágica... Encantadora! E que dimenção ela deu a este personagem!

Mal poderia imaginar-se então que aquela interessante Senhora, com olhos tão grandes e saltados e traços tão finos e marcantes, tinha sido um dia na juventude considerasa uma verdadeira “Beldade”... Nós só a conhecemos mais velha... Mesmo assim, acho-a bonita! É a transparencia com que trata seus papéis...

Mas Winwood nunca parou, sua energia parece ter sido inesgotável. Trabalhou em “Os desajustados” (“The Misfits”, 1961) com Marilyn, Gable e Clift, em “The notorious Landlady” (1962) um maravilhoso (e infelizmente também esquecido) filme de Richard Quine com Kim Novak, Jack Lemmon e Fred Astaire – com roteiro de um jovem Blake Edwards - e que, como sequência final, possui uma “perseguição” na melhor tradição de Mack Sennett... sim, na melhor tradição do cinema mudo... E a perseguição, colina abaixo é toda encenada ao redor de uma cadeira de rodas, na qual Estelle está todo o tempo sentada! Hilariante! Este filme deveria ter uma “Revival”.
Winwood era amissíssima da notória Tallulah Bankhead (vide minha postagem de 01.03.2008, esta eu realmente recomendo se quizerem rir... ). Duas personalidades tão opostas só poderiam ser tão próximas; as duas foram amigas íntimas dos anos 30 (quando bebiam muito no “Algonquin” em NY) até a morte de Tallulah em 1968. Aqui elas duas, ao lado Joan Blondell, no palco da Broadway em “Crazy October” (1958).


Estelle a “lady”, "inglesíssima" (ou como alguém a definiu: prim, soft-spoken and proper) disse uma vez a um amigo que acabara de ver Tattulah (“The outrageous”) andando nua pela casa: “ I don’t know why Tallulah likes to run around naked. She has so many pretty frocks”.
Aos 84 anos trabalhou em “Camelot” (1967, vide minha postagem de 03.03.2008) e aos 85 em “The producers” (1968) de Mel Brooks – filme que depois ela mais ou menos renegou, acentuando que não tinha-o feito senão pelo dinheiro... Hoje é o filme mais “cult” de todos que participou!

Continuou, apesar da idade em seriados da televisão como “Dr.Kildare”, “Perry Mason”, “O agente da U.N.C.L.E.”, “A feiticeira”, “Dennis, o travesso”, “Batman”, “Cannon”, “The Twilight Zone” e “Police Story”. Como disse, de uma energia inacabável!

Seu último papel no cinema foi em 1976, aos 93 anos, no MAGNÍFICO e INTELIGENTÍSSIMO “Murder by Death” de Neil Simon, como a enfermeira de Elsa Lanchester, que na vida real era uma “arqui-inimiga”... as duas sempre se detestaram e se insultavam todo o tempo! Para mais sobre Elsa vide minha Postagem de 14.11.2008. Neste ultimo filme ela dividiu “a ribalta” com nomes como David Niven, Maggie Smith, Alec Guiness, Peter Sellers, Eillen Brennan, Nancy Walker, Peter Falk, Truman Capote e James Coco. Este é um dos meus filmes preferidos... Assisti-o na época com minha mãe no “Bruni Copacabana” e já revi-o muitas (muitas mesmo) vêzes... e rio sempre!

Winwood foi casada seis vêzes e nunca teve filhos. Alguns desses casamentos foram considerados “lavender marriages”, ou seja, casamentos de conveniência, já que alguns dos maridos eram abertamente “gays” (um deles, Guthrie McClintic, tinha sido casado com Katherine Cornell, famosíssima no teatro em sua época e abertamente lésbica).
Quando ela apareceu pela última vez na televisão em 1979, na série “Quincy”, tornou-se, com 96 anos, a atriz mais velha ainda ativa nos Estados Unidos.
Ao completar 100 anos um jornalista perguntou-lhe como “se sentia” em ter 100 anos? Ela respondeu: “”Que rude de voce lembrar-me!” (“How rude of you to remind me!”).
Winwood alcancou 80 anos de carreira – dos 16 aos 96 anos - e quando morreu, dormindo, aos 101 anos de idade era o membro mais velho do Screen Actors Guild.

No livro inacabado de Truman Capote, “Answered Prayers”, ela aparece como ela mesma: ela vai à uma festa, onde todos estão bêbados, inclusive Tallulah Bankhead, Dorothy Parker e Montgomery Clift!

No último 24 de Janeiro, ou seja, seis dias atrás, Estelle haveria completado 126 anos. Querida Estelle, onde voce esteja: HAPPY BIRTHDAY, LOVE!!!!!!!!

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