sexta-feira, 11 de março de 2011

Um Cisne... mesmo?

Neste momento, no qual a mídia quer nos fazer acreditar que um „Cisne“ é uma nova invenção, um novo tópico de conversação (até como se a interpretação de Odette/Odille, respectivamente cisne branco e negro no "Lago dos Cisnes", pela mesma bailarina fosse única- e exclusivamente uma "descoberta de Hollywood" para o roteiro de “Black Swan”) fiquei refletindo sobre a emoção que um cisne nos passa, sobre o que ele representa, sutil- e simbólicamente…

Era isso o que Anna Pavlova queria nos comunicar neste “Shooting”? (Que aliás "adoro"... Pavlova simples, de cara "lavada", relaxada...)





Pensei muito em várias bailarinas, me perguntando se elas também reflexionaram tanto, seja para o “Lago” ou para “A morte do Cisne”. Se fizeram seu "dever de casa"... Dos solistas ao Corps-de-Ballet... Se o fizeram bem, vemos imediatamente no palco... Não estou falando do lado físico, me entendam. Falo de muito além disso. Falo do “simbolismo” de um cisne como uma obra-de-arte em si próprio.

Vejo um pouco do que sinto na distancia de Makarova no “Lago”,



e até nas incomparáveis “asas quebradas” de Lopatkina na «Morte» (Impressionante momento!). Mesmo assim, só um pouco...



Também pensei em vários bailarinos. Sim – jamais poderemos esquecer a versão do “Lago dos Cisnes” de Matthew Bourne como aqui com Will Kemp



e até de Geo Macia da Miami Contemporary Dance Company na “Morte” (pois não foi no “SBT” a primeira vez que um homem dançou esta curta peça – vídeo aliás que recebi já umas 20 vezes!). Mas não são nem de longe tudo o que imagino...



Me revi e me reinventei nas margens de um lago aqui na Austria olhando para cisnes… para me lembrar...
Dentro de mim uma pergunta se respondia automáticamente – mas poderia eu articular estes sentimentos de forma compreensível? Eu só sabia que não queria mais ver alguém "imitando" um cisne...

E como que “por pura coincidencia” (elas não existem mesmo, não é?) recebi um comunicado da TCM (Turner Classic Movies) no qual notei o lançamento em DVD de “The Swan”, filme maravilhoso (que buscava há muitos, muitos anos mesmo) com um elenco soberbo: Grace Kelly, Alec Guinness, Louis Jourdan, Agnes Moorehead, Jessie Royce Landis (fantástica!), a magnífica Estelle Winwood e Leo G. Carroll) de 1956, dirigido por Charles Vidor e baseado na peça do húngaro Ferenc Molnár (1878-1952). Um filme de uma delicadeza sóbria e de uma apaixonante decepção (pois me envolvi demais com os personagens e acabei sofrendo com sua conclusão). Ontem revi este filme. E a emoção da qual me lembrava (pois faziam pelo menos uns 25 anos desde que o tinha visto pela última vez) foi ainda muito mais forte, intensa, quase abaladora…



Encontrei o que pensava e não precisei mas procurar formas de articular meus pensamentos. Eles estavam ali, na tela, no texto em que ouvia (e “via” concretamente), como se estivessem me recontando algo que havia esquecido dentro de mim.

O diálogo (práticamente um monólogo de Alec Guiness como “Prince Albert”) revela ao personagem de Kelly (Princess Alexandra) o que significa “ser” um cisne, no exato momento em que seu amor “burgues” (o professor de seus irmãos, brilhantemente interpretado por Louis Jourdan) deixa o palácio, saíndo assim eternamente de sua vida. Brilhante metáfora de Ferenc Molnár. Aplaudo de pé… Bravo !!!!!!!!

E “vejo”, "revejo" finalmente meu cisne perfeito na interpretação de Grace Kelly…
Curioso o fato de eu não conseguir ve-lo assim no Ballet porém num filme, numa atriz... e num ator! (Sim, Guinness também me recorda um cisne aqui, um cisne mais sábio que conhece os "por ques"!). Logo eu...



Aqui o diálogo original e uma livre tradução minha.
Leiam e assistam a cena abaixo. Sei que entenderão o que quiz dizer.

Um lindo momento cinematográfico - cheio de emoção. Grande Arte pode ser o cinema...

Prince Albert: Your father used to call you his swan, or at least so I am told. I think that's a good thing to remember. Think what it means to be a swan. To glide like a dream on the smooth surface of the lake, and never go on the shore. On dry land, where ordinary people walk, the swan is awkward, even ridiculous. When she waddles up the bank she painfully resembles a different kind of bird, n'est-ce-pas?
Princess Alexandra: A goose.
Prince Albert: I'm afraid so. And there she must stay, out on the lake; silent, white, majestic. Be a bird, but never fly; know one song but never sing it until the moment of her death. And so it must be for you, Alexandra. And high, cool indifference to the staring crowds along the bank. And the song? Never.

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Príncipe Albert: Seu pai costumava lhe chamar de seu cisne, ou pelo menos foi o que me disseram. Eu acho que isto é uma coisa boa para se relembrar. Pense no que significa ser um cisne. Deslizar como um sonho na suave superfície de um lago e nunca ir à sua margem. No terra seca, onde gente comum caminha, o cisne é desajeitado, até ridículo. Quando anda bamboleando-se ele dolorosamente assemelha-se a um outro tipo de pássaro, n’est-ce-pas?
Princesa Alexandra: A um ganso.
Príncipe Albert: Temo que sim. Então lá ele deve se manter, fora no lago; silencioso, branco, majestoso. Sendo um pássaro porém nunca voando; sabendo uma única canção mas nunca cantando-a até o momento de sua morte. E assim deve ser com voce, Alexandra. E altiva e gélida indiferença para as massas que lhe olham fixamente ao longo da margem. E a canção? Nunca.

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